domingo, 18 de julho de 2010

A economia brasileira em 2011 (Por Eduardo Guimarães)

Podem me xingar, mas sou daqueles que vê certa necessidade de política monetária para manter o termômetro econômico estável. Até a inflexão na taxa de juros nos últimos meses, a economia brasileira se aproximava de um nível de atividade que começou a provocar fenômenos como o superaquecimento da demanda por imóveis para locação, por exemplo.
Em São Paulo, do começo do ano até há pouco houve uma onda de ruptura de contratos de aluguel por conta de proprietários sequiosos por novas locações a preços mais altos. O fenômeno se pronunciou sobretudo nas regiões mais valorizadas da cidade.
No comércio, a dita linha branca (eletrodomésticos) já começava a escassear e os preços, a subirem. Outros setores demonstraram superaquecimento, havendo até uma certa dificuldade para se encontrar vários produtos. E o endividamento de pessoas físicas em financiamentos longos reforça a imperiosidade de atenção com a atividade econômica e com a excessiva liquidez.
Ok, poderão conseguir dados de setores que não experimentaram esses fenômenos, mas outros setores experimentaram, de forma que já era possível prever que sem política monetária mais restritiva poderia haver um aumento perigoso da inflação.
Não se pode negar que, de 2008 para 2009, o Banco Central pode, sim, ter errado a mão ao não derrubar a taxa de juros em vista da paralisia econômica que se instalaria, ainda que por curto espaço de tempo. Contudo, do meu ponto de vista acho que o erro foi agravado pelo pânico gerado pela mídia, que garantia que o país afundaria na crise.
Desta maneira, uma eventual redução da taxa Selic naquele período poderia não ter adiantado nada diante de empresários e consumidores colocados em pânico pela mídia.
O fato, assim, é que o ritmo da economia está claramente se reduzindo. Naquela questão dos aluguéis, por exemplo, já se pode ver imóveis retomados por proprietários que ansiavam por locações melhor remuneradas que não estão sendo alugados pelos preços que os senhorios queriam.
Ainda há uma forte demanda pela linha branca. Aliás, o comércio em geral está batendo recordes, mas em níveis cada vez mais moderados. Por conta disso, penso que o Banco Central deve continuar restritivo por mais alguns meses e não acho que exista algum erro nisso. A capacidade instalada da indústria está muito próxima do limite.
Contudo, o quadro mundial tétrico deve fazer os gestores da política econômica refletirem bem para que não mantenham o garrote monetário por mais tempo do que o necessário. Penso que em meados do segundo semestre já se pode considerar, pelo menos, a interrupção de alta da Selic, sob o risco de se fazer o país chegar exangue a 2011.
Há especulações cada vez mais freqüentes sobre uma recaída da economia mundial na crise. Por mais que o Brasil esteja forte, cheio de dólares em caixa, sem dívida externa e com o mercado interno equilibrado, é impossível que um novo agravamento da situação internacional não tenha repercussão por aqui.
Diante de uma economia bem mais moderada no ano que vem, vale a pena especular sobre a situação política em tal cenário: que reação da sociedade haveria com Serra ou com Dilma no governo?
No caso de vitória de Dilma, acredito que seja mais fácil vender uma redução mais perceptível da atividade econômica, pois o histórico do governo que ela estaria sucedendo geraria confiança de que uma eventual redução da atividade poderia ser transitória.
No caso de Serra se eleger, no entanto, penso que a coisa pode ficar meio esquisita para o lado dele, pois haveria uma sensação da sociedade de que foi lograda e que a queda na atividade econômica seria culpa dele e não do que está começando a acontecer agora, o que poderia provocar reações imprevisíveis da opinião pública, agora convencida de que votou errado.
De uma forma ou de outra, quero avisar a todos para que estejam preparados para um 2011 mais moderado, do ponto de vista econômico.
Acredito que endividamentos, para quem já estiver com algum comprometimento da própria receita – seja pessoa física ou jurídica –, seria pouco recomendável até que se tenha uma visão mais clara sobretudo da situação dos países ricos, que vai se mostrando cada vez mais preocupante.
A eufórica Espanha, por exemplo, para usar um termo da moda digo que se encontra bastante “afunhanhada”, atualmente. Desemprego, recessão e algum esboço de tensão social já vinham se desenhando, ainda que mitigados, neste momento, pela euforia futebolística. Em breve, porém, os espanhóis cairão na real.
O resto da Europa não está muito melhor e os Estados Unidos, tampouco.
Para não fechar este texto com pessimismo, acredito que o freio de arrumação que ora está sendo pressionado será benéfico, obviamente que desde que o Banco Central tenha sensibilidade para não provocar um desaquecimento intencional que pode se somar ao desaquecimento involuntário que é previsível que se instalará.
A grande boa notícia é a de que o comportamento do BC vem sendo absolutamente despolitizado. Se errar, será por razões que nada terão que ver com política, o que é um enorme avanço em relação ao bom e velho tempo de estelionatos eleitorais como o de 1998, quando a eleição fez FHC segurar a inadiável desvalorização do real.

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